A Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial da Bahia - COJIRA-BA - foi criada em abril de 2008 pela diretoria do SINJORBA, por ocasião das comemorações do Dia do Jornalista (7), para atender a resolução do XXXI Congresso Nacional dos Jornalistas (PB, 2004) de criar comissões semelhantes ao Núcleo de Jornalistas Afro-Brasileiros vinculado ao Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul e à COJIRA-SP (criados em 2000) e à COJIRA-Rio (criada em 2003). Atualmente existem ainda a COJIRA-AL, COJIRA-BSB (criadas anteriormente à COJIRA-BA) e a COJIRA-PB (criada em 2009). O movimento nacional criou a CONJIRA, no 33º Congresso da categoria (SP, 2008), coordenada pela COJIRA-AL. No 34º Congresso Nacional de Jornalistas, realizado em Porto Alegre (agosto 2010), a CONJIRA se transformou na CONAJIRA - Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Étnico-Racial com o propósito de agregar também os estados que abrigam contingentes populacionais indígenas. Foi aprovada também a proposta de composição da entidade nacional por um representante de cada COJIRA (Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraíba) e Núcleo de Jornalistas Afro-brasileiros do Rio Grande do Sul, sendo que estas instâncias devem indicar um membro titular e respectivo suplente; e por um representante da FENAJ igualmente a ser indicado pela Federação.
Para saber o que significa esse movimento na sociedade brasileira, vamos falar um pouco sobre as idéias que permearam a sua criação. O primeiro documento elaborado em conjunto para justificar esse movimento nacional - a tese Visibilidade às Questões Étnicas nos Meios de Comunicação e no Mercado de Trabalho, aprovada no 31º Congresso da categoria - chamava àtenção para as relações raciais como questão estrutural da sociedade brasileira a requerer atuação especial dos jornalistas. "Os meios de comunicação e, particularmente, a imprensa, poderão ocupar posição privilegiada no processo de superação dos problemas raciais", diz o documento.
Outro documento, elaborado pela COJIRA-SP, comenta que o Mapa da População Negra no Mercado de Trabalho elaborado pelo Dieese para o Inspir (Instituto Sindical Interamericano Pela Igualdade Racial, órgão destinado a subsidiar o movimento sindical e os movimentos sociais na luta pela igualdade de oportunidades e pela criação de políticas públicas para a população negra criado através de uma articulação política entre as centrais sindicais brasileiras) "demonstra uma situação de reiterada desigualdade para os trabalhadores negros de ambos os sexos no mercado de trabalho, nas seis regiões metropolitanas estudadas ['em Salvador, a taxa de desemprego entre os negros é 45% maior que entre os não negros' dizia o estudo]... com a discriminação racial sobrepondo-se à discriminação por sexo, combinando-se a esta para constituir o cenário de aguda dificuldade em que vivem as mulheres negras, atingidas por ambas". O documento também sugere a constituição de um banco de dados com recorte étnico sobre jornalistas, para testar o reflexo dessa realidade no mercado de trabalho para esses profissionais.
O documento cita como uma das tarefas das COJIRAS, o acompanhamento e a repercussão do noticiário relacionado com a questão racial, com o objetivo de "interferir junto aos diversos segmentos envolvidos na produção das notícias, a fim de reduzir as distorções decorrentes de visões etnocêntricas e também para permitir que o negro tenha na mídia uma presença proporcional ao seu peso demográfico e cultural na sociedade brasileira" pressupondo que "os cursos de graduação e a sociedade em geral não permitem que a maioria dos profissionais de nossa categoria tenham uma visão clara dos problemas que afetam a comunidade negra brasileira" (...)gerando "distorções na abordagem de temas de interesse do povo negro".
A história do movimento sindical que aponta a mídia como aparelho produtor e reprodutor do racismo na sociedade brasileira, antes do movimento Núcleo-RS/COJIRAS, se confunde com a própria história da imprensa negra, com seus personagens atuando numa imprensa independente com uma ótica diferenciada e lutando por um espaço no mercado de trabalho ao mesmo tempo. Os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul são riquíssimos em termos de registros, de estudos e teses que apontam a mídia brasileira como etnocentrista, cujos autores graduaram em Comunicação ou escolheram esse campo como atuação de suas dissertações.
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Na Bahia, a primeira referência apontando a necessidade de superação do racismo através da mídia, dentro do movimento sindical é a tese "O lado negro da imprensa branca", de Ana Alakija, aprovada no III Encontro Estadual de Jornalistas Baianos (1984). Outra referência é a criação do Comitê Anti-Aparheid, criada pelo Movimento Negro Unificado (MNU) junto ao SINJORBA, pelo fim do apartheid na África do Sul e pela libertação de Nelson Mandela, na gestão de Raimundo Lima e que teve também a jornalista Ana Alakija como membro nessa comissão e que tinha à frente Jônatas Conceição, radialista (IRDEB) e editor do Boletim Nego, do MNU. Jornalistas negros baianos que já atuavam nessa época, como Evanice Santos, Wanda Chase, Luís Augusto dos Santos (L.A), Hamilton Vieira, Hamilton Santos (paulista que atuou em Salvador), Carlos Alberto Oliveira (Carlão), Fernando Conceição, Maria José Barbosa e outros, são personagens que fazem parte dessa história, na busca de opções pessoais “por uma visibilidade do invisível” por conta do expurgo de alguma forma da grande imprensa (com exceção de Wanda Chase, que conquistou espaço na TV Bahia, e de certa forma Evanice Santos, como colunista da Tribuna da Bahia). O caso de Hamilton Santos, que foi reporter de A TARDE, é dramático: ele morreu alguns anos após ter sido atropelado pela polícia baiana que confundiu ele como “um marginal”.
O movimento COJIRA-BA surgiu sob a inspiração das COJIRAS e Núcleo-RS existentes em outros estados, em 2007 articulado por um grupo, do qual fazia parte Carlos Alberto Oliveira (Carlão), Evanice Santos, Mary Bahia, Patrícia Santana, Lúcia Correa Lima, dentre outros. Com a eleição da chapa contrária à qual fazia parte esse grupo, houve uma dispersão. A COJIRA-BA passou então a ser articulada pela jornalista Cristina Viana. No dia da sua criação ela teve como presença as jornalistas Maíra Azevedo, Márcia Ferreira, Evanice Santos e Ana Alakija. Depois se agregaram Yuri Almeida, Ludmila Duarte, Patrícia Santana, Mônica França, Lucas Barbosa (editor do blog da COJIRA-BA), Noemi Flores e Aline Braga. A coordenação da COJIRA-BA inicialmente se dividiu entre Maíra Azevedo e Márcia Ferreira e com Ana Alakija articulando a Comissão de Igualdade Racial do Comitê FNDC-BA; durante o 33º Congresso Nacional dos Jornalistas (SP, 2008), ela passou a fazer a articulação da COJIRA-BA com as demais. Atualmente, a COJIRA-BA não tem coordenação definida e as decisões são tomadas por consenso.
No histórico das atividades da COJIRA-BA, veja algumas conquistas:
1) Aprovação junto ao Forum Nacional de Democratização da Comunicação da inserção do quesito "étnico-racial" na temática da Conferencia Nacional de Comunicação (maio/2008) - inciativa e articulação com as outras COJIRAS e os movimentos sociais, especialmente ABRAÇO, FBDC-Ba, ALAI, FMDH, MNDH, COMISSÃO DE DH DO CRP-MG/BA, FOJUNE, MNU.
2) Participação e fundação do Comitê de Luta pela Igualdade Racial e Democratização da Comunicação junto ao FNDC-BA (junho/2008)
3) Participação na elaboração do documento-base do Comitê de luta pela Igualdade Racial do FNDC-Ba, contendo propostas de recorte étnico-racial com foco na população afro-descendente, para a CONFERÊNCIA NACIONAL DE COMUNICAÇÃO, tomando como base territorial a Bahia, e a sua CONFERÊNCIA ESTADUAL DE COMUNICAÇÃO como fórum inicial (julho/2008); o documento serviu também como instrumento de argumentação para uma representação da agenda no comitê nacional Pró-Cofecom preparatório para a CONFECOM, feita pela jornalista Jacira Silva (BSB), pelo MNU. Posteriormente subsidiou a compilação de propostas para a agenda negra na CONFECOM.
4) Criação e moderação da lista permanente Seminário Mídia Étnica, como um canal de comunicação entre as COJIRAS e outras entidades interessadas em discutir comunicação, imprensa, racismo, um novo olhar e responsabilidade social do jornalista (julho/2008-...)
5) Participação ativa nas etapas da Conferência Estadual de Comunicação da Bahia, como facilitadora (junho-agosto/2008); na oportunidade, o FNDC-BA e a COJIRA-BA foram praticamente as únicas vozes levantadas contra o modelo de representação territorial estabelecido pela Conferência Estadual em detrimento da representatividade através dos movimentos sociais de acordo com as regras do FNDC e comitê nacional. Um ano depois a Bahia teria que realizar um novo fórum para eleger representações desses movimentos na CONFECOM - etapa nacional.
6) Participação do XXXIII Congresso Nacional dos Jornalistas; participação da reunião das COJIRAS (paralela ao evento) que criou a Comissão Nacional de jornalistas pela Igualdade Racial - CONJIRA. (SP, agosto 2008)
7) Presença nas Conferências Municipais de Educação e de Comunicação (abril/maio 2009).
8) Elaboração de propostas de recorte étnico-racial para a comissão de especialistas que subsidiou o MEC na revisão das diretrizes curriculares do curso de jornalismo que serviram como subsídios junto com outras propostas como contribuição para o documento final (março/2009)
9) Participação ativa no Comitê Estadual Pró-Cofecom, nas assembléias preparatórias para a etapa nacional CONFECOM (decurso de 2009).
10) Organização da Mesa sobre Imprensa Negra em conjunto com entidades do movimento social (ALAI, IBL) durante o X Congresso Estadual dos Jornalistas, com exibição de filmes sobre temática racial (novembro/2009), coordenada por Luís Guilherme Pontes Tavares e contando com a presença dos jornalistas Cleidiana Ramos (blog Mundo Negro do jornal A TARDE), Evanice santos (ALAI), L.A. (Ascom-Prefeitura), Dalmo Oliveira (Movimento Novos rumos-PB), Ana Alakija ( ALAI e COJIRA-BA).
11) Criação da Diretoria de Gênero e Promoção da Igualdade Racial na oportunidade de mudança do estatuto do SINJORBA (novembro/2009). A proposta foi gerada em reunião da COJIRA-BA ocorrida no X Congresso Estadual dos Jornalistas.
12) Criação e lançamento do blog COJIRA-BA(cojirabahia.logspot.com) durante o X Congresso Estadual dos Jornalistas, com a presentação feita pelo editor do blog, Lucas Barbosa. (novembro/2009).
13) Participação da elaboração do estatuto e da criação da Federação dos Jornalistas Lusófonos em Lisboa, Portugal (dezembro,2009).
14) Participação na Mesa sobre Mídia Intolerância Preconceito Racismo no Fórum social Mundial (FSM-BA) (janeiro/2010).
15) Organização (em conjunto com a ALAI) da atividade cine-fórum, com exibição do filme É Prá Pirá-já seguida de debate com o roteirista Dudah Oliveira (Movimento Negro-RJ) por ocasião das atividades do Dia do Jornalista e o transcurso do segundo aniversário da COJIRA-BA (abril/2010).
16) Apoio na indicação da jornalista Jacira Silva para compor o Conselho da Empresa Brasileira de Comunicação, que obteve uma votação expressiva.
17) Participação em ações conjuntas da CONAJIRA, como manifestos, pleitos nacionais, agravos, etc.
18) Contribuição para a produção do Manual Contra a Intolerância e Preconceito na Mídia (em fase inicial).
19) Participação em eventos da categoria e dos movimentos sociais em geral.