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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial  da Bahia - COJIRA-BA - foi criada em abril de 2008 pela diretoria do SINJORBA, por ocasião das comemorações do Dia do Jornalista (7), para atender a resolução do XXXI Congresso Nacional dos Jornalistas (PB, 2004) de criar comissões semelhantes ao Núcleo de Jornalistas Afro-Brasileiros vinculado ao Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul e à COJIRA-SP (criados em 2000) e à COJIRA-Rio (criada em 2003). Atualmente existem ainda a COJIRA-AL, COJIRA-BSB (criadas anteriormente à COJIRA-BA) e a COJIRA-PB (criada em 2009). O movimento nacional criou a CONJIRA, no 33º Congresso da categoria (SP, 2008), coordenada pela COJIRA-AL. No 34º Congresso Nacional de Jornalistas, realizado em Porto Alegre (agosto 2010), a CONJIRA se transformou na CONAJIRA - Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Étnico-Racial com o propósito de agregar também os estados que abrigam contingentes populacionais indígenas. Foi aprovada também a proposta de composição da entidade nacional por um representante de cada COJIRA (Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraíba) e Núcleo de Jornalistas Afro-brasileiros do Rio Grande do Sul, sendo que estas instâncias devem indicar um membro titular e respectivo suplente; e por um representante da FENAJ igualmente a ser indicado pela Federação.

Para saber o que significa esse movimento na sociedade brasileira, vamos falar um pouco sobre as idéias que permearam a sua criação. O primeiro documento elaborado em conjunto para justificar esse movimento nacional  - a tese Visibilidade às Questões Étnicas nos Meios de Comunicação e no Mercado de Trabalho, aprovada no 31º Congresso da categoria -   chamava àtenção para as relações raciais como questão estrutural da sociedade brasileira a requerer  atuação especial dos jornalistas. "Os meios de comunicação e, particularmente, a imprensa, poderão ocupar posição privilegiada no processo de superação dos problemas raciais", diz o documento.

Outro documento, elaborado pela COJIRA-SP,  comenta que o Mapa da População Negra no Mercado de Trabalho elaborado pelo Dieese para o Inspir (Instituto Sindical Interamericano  Pela Igualdade Racial, órgão destinado a subsidiar o movimento sindical e os movimentos sociais na luta pela igualdade de oportunidades e pela criação de políticas públicas para a população negra criado através de uma articulação política entre as centrais sindicais brasileiras) "demonstra uma situação de reiterada desigualdade para os trabalhadores negros de ambos os sexos no mercado de trabalho, nas seis regiões metropolitanas estudadas ['em Salvador, a taxa de desemprego entre os negros é 45% maior que entre os não negros' dizia o estudo]... com a discriminação racial sobrepondo-se à discriminação por sexo, combinando-se a esta para constituir o cenário de aguda dificuldade em que vivem as mulheres negras, atingidas por ambas". O documento também sugere a constituição de um banco de dados com recorte étnico sobre jornalistas,  para testar o reflexo dessa realidade no mercado de trabalho para esses profissionais.

O documento cita como uma das tarefas das COJIRAS,  o acompanhamento  e a repercussão do noticiário relacionado com a questão racial, com o objetivo de "interferir junto aos diversos segmentos envolvidos na produção das notícias, a fim de reduzir as distorções decorrentes de visões etnocêntricas e também para permitir que o negro tenha na mídia uma presença proporcional ao seu peso demográfico e cultural na sociedade brasileira" pressupondo que  "os cursos de graduação e a sociedade em geral não permitem que a maioria dos profissionais de nossa categoria tenham uma visão clara dos problemas que afetam a comunidade negra brasileira" (...)gerando "distorções na abordagem de temas de interesse do povo negro".

A história do movimento sindical que aponta a mídia como aparelho produtor e reprodutor do racismo na sociedade brasileira, antes do movimento Núcleo-RS/COJIRAS, se confunde com a própria história da imprensa  negra, com seus personagens atuando numa imprensa independente com uma ótica diferenciada e lutando por um espaço no mercado de trabalho ao mesmo tempo. Os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul são riquíssimos em termos de registros, de estudos e teses que apontam a mídia brasileira como etnocentrista, cujos autores graduaram em Comunicação ou escolheram esse campo como atuação de suas dissertações.

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Na Bahia, a primeira referência apontando a necessidade de superação do racismo através da mídia, dentro do movimento sindical  é a tese "O lado negro da imprensa branca", de Ana Alakija, aprovada no III Encontro Estadual de Jornalistas Baianos (1984). Outra referência é a criação do Comitê Anti-Aparheid, criada pelo Movimento Negro Unificado (MNU) junto ao SINJORBA, pelo fim do apartheid na África do Sul e pela libertação de Nelson Mandela, na  gestão de Raimundo Lima e que teve também a jornalista Ana Alakija como membro nessa comissão e que tinha à frente Jônatas Conceição, radialista (IRDEB)  e editor do Boletim Nego, do MNU. Jornalistas negros baianos que já atuavam nessa época, como Evanice Santos, Wanda Chase, Luís Augusto dos Santos (L.A), Hamilton Vieira, Hamilton Santos (paulista que atuou em Salvador), Carlos Alberto Oliveira (Carlão), Fernando Conceição, Maria José Barbosa  e outros, são personagens que fazem parte dessa história, na busca de opções pessoais “por uma visibilidade do invisível” por conta do expurgo de alguma forma da grande imprensa (com exceção de Wanda Chase, que conquistou espaço na TV Bahia, e de certa forma Evanice Santos, como colunista da Tribuna da Bahia). O caso de Hamilton Santos, que foi reporter de A TARDE, é dramático: ele morreu alguns anos após ter sido atropelado pela polícia baiana que confundiu ele como “um marginal”.

O movimento COJIRA-BA surgiu sob a inspiração das COJIRAS e Núcleo-RS existentes em outros estados, em 2007 articulado por um grupo, do qual fazia parte Carlos Alberto Oliveira (Carlão), Evanice Santos, Mary Bahia, Patrícia Santana, Lúcia Correa Lima, dentre outros. Com a eleição da chapa contrária à qual fazia parte esse grupo, houve uma dispersão. A COJIRA-BA passou então a ser articulada pela jornalista Cristina Viana. No dia da sua criação ela teve como presença as jornalistas Maíra Azevedo, Márcia Ferreira, Evanice Santos e Ana Alakija. Depois se agregaram Yuri Almeida, Ludmila Duarte, Patrícia Santana, Mônica França, Lucas Barbosa (editor do blog da COJIRA-BA), Noemi Flores e Aline Braga. A coordenação da COJIRA-BA inicialmente se dividiu entre Maíra Azevedo e Márcia Ferreira e com Ana Alakija articulando a Comissão de Igualdade Racial do Comitê FNDC-BA; durante o 33º Congresso Nacional dos Jornalistas (SP, 2008),  ela passou a fazer a articulação da COJIRA-BA  com as demais. Atualmente, a COJIRA-BA não tem coordenação definida e as decisões são tomadas por consenso.

No histórico das atividades da COJIRA-BA, veja algumas conquistas:

1)  Aprovação junto ao Forum Nacional de Democratização da Comunicação  da inserção do quesito "étnico-racial" na temática da Conferencia Nacional de Comunicação (maio/2008) - inciativa e articulação com as outras COJIRAS e os movimentos sociais, especialmente ABRAÇO, FBDC-Ba, ALAI, FMDH, MNDH, COMISSÃO DE DH DO CRP-MG/BA, FOJUNE, MNU.

2) Participação e fundação do Comitê de Luta pela Igualdade Racial e Democratização da Comunicação junto ao FNDC-BA (junho/2008)

3)  Participação na elaboração do documento-base do Comitê de luta pela Igualdade Racial do FNDC-Ba, contendo propostas de recorte étnico-racial com foco na população afro-descendente, para a CONFERÊNCIA NACIONAL DE COMUNICAÇÃO, tomando como base territorial a Bahia, e a sua CONFERÊNCIA ESTADUAL DE COMUNICAÇÃO como fórum inicial (julho/2008); o documento serviu também como instrumento de argumentação para uma representação da agenda no comitê nacional Pró-Cofecom preparatório para a CONFECOM, feita pela jornalista Jacira Silva (BSB), pelo MNU. Posteriormente subsidiou a compilação de propostas para a agenda negra na CONFECOM.

4) Criação e moderação da lista permanente Seminário Mídia Étnica, como um canal de comunicação entre as COJIRAS e outras entidades interessadas em discutir comunicação, imprensa, racismo, um novo olhar  e responsabilidade social do jornalista (julho/2008-...)

5) Participação ativa nas etapas da Conferência Estadual de Comunicação da Bahia, como facilitadora (junho-agosto/2008); na oportunidade, o FNDC-BA e a COJIRA-BA foram praticamente as únicas vozes levantadas contra o modelo de representação territorial estabelecido pela Conferência Estadual em detrimento da representatividade através dos movimentos sociais de acordo com as regras do FNDC e comitê nacional.   Um ano depois a Bahia teria que realizar um novo fórum para eleger representações desses movimentos na CONFECOM - etapa nacional.

6) Participação do XXXIII Congresso Nacional dos Jornalistas; participação da reunião  das COJIRAS (paralela ao evento) que criou a Comissão Nacional de jornalistas pela Igualdade Racial - CONJIRA. (SP, agosto 2008)

7) Presença nas Conferências Municipais de Educação e de Comunicação (abril/maio 2009).

8) Elaboração de propostas de recorte étnico-racial para a comissão de especialistas que subsidiou o MEC na revisão das diretrizes curriculares do curso de jornalismo que serviram como subsídios junto com outras propostas como contribuição para o documento final (março/2009)

9) Participação ativa no Comitê Estadual Pró-Cofecom, nas assembléias preparatórias para a etapa nacional CONFECOM (decurso de 2009).

10) Organização da Mesa sobre Imprensa Negra em conjunto com entidades do movimento social (ALAI, IBL) durante o X Congresso Estadual dos Jornalistas, com exibição de filmes sobre temática racial (novembro/2009), coordenada por Luís Guilherme Pontes Tavares e contando com a presença dos jornalistas Cleidiana Ramos (blog Mundo Negro do jornal A TARDE), Evanice santos (ALAI), L.A. (Ascom-Prefeitura), Dalmo Oliveira (Movimento Novos rumos-PB), Ana Alakija ( ALAI e COJIRA-BA).

11) Criação da Diretoria de Gênero e Promoção da Igualdade Racial na oportunidade de mudança do estatuto do SINJORBA  (novembro/2009). A proposta foi gerada em reunião da COJIRA-BA ocorrida no X Congresso Estadual dos Jornalistas.

12) Criação e lançamento do blog COJIRA-BA(cojirabahia.logspot.com) durante o X Congresso Estadual dos Jornalistas, com a presentação feita pelo editor do blog, Lucas Barbosa. (novembro/2009).

13) Participação da elaboração do estatuto e da criação da Federação dos Jornalistas Lusófonos  em Lisboa, Portugal (dezembro,2009).

14) Participação na Mesa sobre Mídia Intolerância Preconceito Racismo no Fórum social Mundial (FSM-BA) (janeiro/2010).

15) Organização (em conjunto com a ALAI) da atividade cine-fórum,  com exibição do filme É Prá Pirá-já seguida de debate com o roteirista Dudah Oliveira (Movimento Negro-RJ) por ocasião das atividades do Dia do Jornalista e o transcurso do segundo aniversário da COJIRA-BA (abril/2010).
 
16) Apoio na indicação da jornalista Jacira Silva para compor o Conselho da Empresa Brasileira de Comunicação, que obteve uma votação expressiva.

17) Participação em ações conjuntas da CONAJIRA, como manifestos, pleitos nacionais, agravos, etc. 

18) Contribuição para a produção  do Manual Contra a Intolerância e Preconceito na Mídia (em fase inicial).
 
19) Participação em eventos da categoria e dos movimentos sociais em geral.

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A nova diretoria do Sinjorba foi empossada no dia 1º de setembro último na Câmara Municipal do Salvador. Dela faz parte uma das primeiras coordenadoras da COJIRA-BA, Maira Azevedo, empossada como vice da recém-criada Diretoria de Relações de Gênero e Promoção da Igualdade Racial. O titular d cargo é o jornalista André Santana.
A GPIR foi criada durante o X Congresso Estadual dos Jornalistas, na reformulação do seu Estatuto, como proposta apresentada pela COJIRA-BA e é uma das primeiras em natureza a ser criada numa entidade de classe no país. Na oportunidade o Sinjorba criou também outra diretoria – a Regional Recôncavo. As novas presidenta e vice-presidenta do SINJORBA são:  Marjorie Moura e Regina Ferreira.


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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Em homenagem à lei Áurea o ministro anunciou a criação de mais 250
bolsas de iniciação científica para negros

No dia em que se comemora os 122 anos da Lei Áurea, o ministro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Eloi Ferreira, anunciou hoje (13) a criação de 250 bolsas de pós-graduação para alunos negros ou pardos e um aumento de 200 bolsas do Programa de Iniciação Científica (Pibic), que passarão de 600 para 800 em 2010.

O ministro destacou que, apesar de o sistema de cotas não ser obrigatório no Brasil, 91 universidades públicas do país adotam a reserva de vagas no vestibular para alunos negros.

Ele também anunciou o lançamento de um selo para identificar as instituições de ensino que promovem a Lei nº 10.639, de 2003. O texto tornou obrigatória a inclusão da história do povo negro e suas contribuições culturais, econômicas e sociais para o país no currículo de ensino infantil, fundamental e médio. A entrega dos selos ocorrerá em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.

Para Eloi Ferreira, as ações divulgadas hoje ajudam a corrigir injustiças e distorções históricas. “A promulgação da Lei Áurea não foi acompanhada de uma inclusão educacional, habitacional e isso faz com que até hoje o negro continue na base da pirâmide social”, afirmou.

O ministro defendeu também a criação do Estatuto de Igualdade Racial, que já foi aprovado pela Câmara e aguarda votação no Senado. “Essa lei será como um segundo artigo da Lei Áurea. Ela garante o respeito às religiões de matriz africana e garante a possibilidade de acesso à terra aos remanescentes quilombolas”, destacou.

Fonte: Agência Brasil

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quarta-feira, 12 de maio de 2010


Uma crítica à revista Veja, feita no Twitter, provocou a demissão, nesta terça-feira (11), do repórter fotográfico Felipe Milanez, editor-assistente da revistaNational Geographic Brasil. As duas publicações são da editadas pela Abril.

“A decisão me foi comunicada pelo redator-chefe Matthew Shirts. Ela veio lá de cima e ainda estou zonzo ainda porque não imaginava que minha opinião fosse resultar nisso”, declarou Milanez ao Blog do Altino Machado.

O editor-assistente fez acusações contundentes à Veja devido à preconceituosa matéria "A farsa da nação indígena", que deturpava o sentido da delimitação de reservas indígenas e quilombos no país. “Veja vomita mais ranso racista x indios, agora na Bolivia. Como pode ser tão escrota depois desse seculo de holocausto?", registrou Milanez no Twitter.

Em mensagem no mesmo dia, Milanez afirmou que o "racismo" da publicação fez com que se manifestasse. "Eu costumava ignorar a idiota Veja. Mas esse racismo recente tem me feito sentir mal. É como verem um filme da Guerra torcendo pros nazistas".

Também no microblog, o jornalista informou sua demissão: "To destruido, muito chateado. Acabo de ser demitido por causa dessa infeliz conta de Twitter. Sonhos e projetos desmancharam no ar virtual."

Em entrevista ao Portal Imprensa, Milanez declarou que fez observações contundentes sobre a publicação, mas foi surpreendido pela demissão. "Fui bem duro, fiz comentários duros, mas como pessoa; não como jornalista. Fiquei pessoalmente ofendido. Mas estou chateado por ter saído assim. Algumas frases no Twitter acabaram com uma porrada de projetos", lamentou o ex-editor.

O redator-chefe da National, Matthew Shirts, confirmou ao Portal Imprensa que os comentários no Twitter resultaram na demissão de Milanez. "Foi demitido por comentário do Twitter com críticas pesadas à revista. A Editora Abril paga o salário dele e tomou a decisão", disse. Ao ser questionado se concordava com a demissão do jornalista, Shirts declarou que "fez o que tinha que fazer exercendo a função".

Bastante conhecedor da Amazônia, especialmente das tribos indígenas, Milanez estava com viagem marcada para o Amazonas na quinta-feira (13). Ele iria percorrer durante 15 dias a BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Vellho (RO), acompanhando uma equipe da Embratel que dá suporte às torres de telefonia.

Milanez também havia se manifestado no Twitter a respeito da nota do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, citado por Veja na reportagem, mas que nega ter dado entrevista para a revista. “Eduardo Viveiros de Castro achou um bom adjetivo pra definir a matéria da Veja: ‘repugnante’”, escreveu Milanez. “Veja é abusada. Assim E. Viveiros de Castro corre o risco de nunca mais ser citado na revista(!), como JonLee Anderson.”

Além de ter reproduzido tweets em que o antropólogo acusa Veja de “fabricar” declaração, Milanez também chegou a citar os microblogs dos repórteres Leonardo Coutinho, Igor Paulin e Júlia de Medeiros, autores da reportagem, como exemplos de “anti-indígenas” para quem quisesse segui-los. “Não sei ainda o que vou fazer da vida. Não estou arrependido porque nunca imaginei que minha opinião pudesse causar uma reação tão drástica. Talvez eu tenha sido ingênuo, mas quem defende índio tem que estar com a cabeça preparada para levar paulada”, concluiu Milanez.

Da Redação do Portal Vermelho, com agências
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No dia 13 de maio de 1888, determinou-se a Abolição da Escravidão no Brasil, país que foi líder na realização do tráfico de escravos e que manteve por mais tempo o trabalho forçado. Mais de 15 milhões de pessoas foram retiradas do continente africano, e as justificativas para mantê-las escravizadas eram que estavam amaldiçoadas e pertenciam a povos inferiores. Sendo assim, vários reinos e famílias foram destruídos. Com a assinatura da Lei Áurea, as negras e os negros livres tiveram como herança a falta de formação educacional e profissional, habitações precárias e dificuldades financeiras. Eis uma mancha expressiva na nossa História!

O Movimento Negro adotou o dia 13 de maio como o Dia Nacional de Combate ao Racismo – dedicado às atividades reflexivas que promovam o debate sobre o cotidiano da população afro-descendente e também às apresentações artísticas que exaltam o legado africano deixado na cultura brasileira. Além disso, os coletivos que discutem as questões étnicorraciais no movimento sindical também contribuem para a propagação de novos paradigmas em diversas áreas.

A Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-AL) vinculada ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas (Sindjornal) foi instalada no dia 24 de novembro de 2007. Por meio do seu blog, twitter, informes afros e a Coluna Axé (veículo semanal que completa dois anos nesta quinta-feira, no jornal Tribuna Independente) vem contribuindo para a interlocução entre os segmentos afros e os meios de comunicação, além de promover a ampliação de pautas que abordem a cultura afro-brasileira e a conjuntura da população afro-descendente durante todo o ano.

Porém, atualmente, os nossos principais desafios são: a sensibilização dos profissionais sobre a temática, especialmente os que estão no dia a dia das redações; a avaliação crítica quanto à existência do racismo e assédio moral nos locais de trabalho; além da conscientização sobre as consequências das expressões preconceituosas nos veículos de comunicação.

Devemos por questão de ética e respeito evitar os termos racistas. Dentre os exemplos que são propagados podemos citar: ‘lista negra’, ‘línguas negras’, ‘a coisa tá preta’, ‘buraco negro’ (sem conotação científica), ‘páginas negras da história’, ‘samba do crioulo doido’ e vários outros.

De acordo com o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, é dever dos profissionais “combater a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais, econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física ou mental, ou de qualquer outra natureza” (Cap. 2 / Artº 6º / XIV) e “não podem usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime” (Cap. 2 / Artº 7º / V).

Também gostaríamos de lembrá-los(las) que “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional” é crime previsto na Lei nº9.459 de 13 de maio de 1997, tem pena de reclusão de um a três anos e multa; caso o crime seja “cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza”, a pena pode chegar a cinco anos de reclusão e mais multa.

Nós vivemos 122 anos de abolição inacabada e que traz consequências até hoje! Os estereótipos existem para ampliar o preconceito e desconstruir a sociedade. Os afro-descendentes (negros = pretos + pardos) representam hoje mais da metade da população brasileira, ajudaram a formar a cultura deste país, além de contribuir decisivamente para o desenvolvimento sócio-político e econômico.

A COJIRA-AL luta por um jornalismo ético, que contribua para a transformação social e respeite a diversidade étnicorracial, de credos e de gênero! Seguimos em frente, e temos como espelhos os guerreiros quilombolas que enfrentaram seus medos e vários obstáculos em busca de liberdade. Axé!

 Atenciosamente,

Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial em Alagoas

cojira.al@gmail.com / www.cojira-al.blogspot.com / twitter: @cojiraal
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terça-feira, 6 de abril de 2010

Naquele entre-vista Zoel Zito Araújo fala da beleza da mestiçagem à brasileira e de nossa loucura, enquanto povo mestiço, em querer ser branco, tudo reflete em ser o homem branco, a mulher branca, coisas essas que Frantz Fanon escreveu bem em seu livro Pele Negra, Máscaras Brancas.

Kabengele Munanga lembra aos desavisados que a humanidade é mestiça. Se olhar com a lupa veremos que o que chamamos de espanhol, pode ser negação para aquela menina do país basco ou aquele menino catalão, ou o milanes, piamontes lá na italia… ou a diversidade étnica para os povos banto. Que um ucraniano casar com uma italiana, também é mestiçagem, embora brancos… assim como banto e mandiga. A questão é dentro da mestiçagem, da diversidade, eu como diferente me ver e coexistir.

Navegando pela blogsfera eu vejo os gritos desesperados (sinestesia, por favor! “Só poetas são capazes de entender poesia”, diria Paulo Leminski) contra a morte da língua portuguesa. Até aí tudo bem, se estiverem em portugal, o problema é quando querem isso estando no Brasil. Oras, o idioma falado no Brasil é o brasileiro! O software livre tem caminhando para esse reconhecimento, quando tem português-brasileiro na configuração de idioma em aplicativos.

Essa loucura é o assassinato da diversidade, coisas que a farsa da democracia racial no Brasil tem feito muito bem. Como posso estar falando errado quando as pessoas de onde eu moro me entende perfeitamente? As pessoas que me relaciono, meu ambiente social assim diz e assim é o correto. E viajando pelo país a diversidade dentro desse idioma brasileiro não é pouco. Seus vernáculo… os encontros e desencontros de tamanha riqueza.

A influência de língua banto, yorubá, árabe, italiana, francesa, tupi, guarani, japonesa e tantas outras são simplesmente atropeladas. E ainda mais aquilo que foi modificado. Tratam a língua como algo morto. Mas ela é viva e se transforma.

Vejo a internet como uma grande possibilidade dessa diversidade se mostrar além bairro, além local e ir pro global. Mas a censura se faz presente e os argumentos… são os mesmo que mantem o status quo: escreva correto, não mate os acentos, z e s, bem bom, mal mau… Brasil com P., preto pobre e puta agora falam, e isso incomoda. É como a touca preta zapatista e tampa o rosto do indigena que nunca foi percebido, que agora é percebido, pois não mostra o rosto para quem sempre o nego, e fala, do seu jeito, e  não deixa morrer a flor da palavra. Esquecem que é escrevendo e lendo que podem aprender outras formas de fazer a escrita e a leitura. Lembra daquele vídeo-documentário sobre Paulo Freire, quando ele lembra de seu primeiro dia de aula como educador, quando o educando escrevendo na lousa o nome de sua companheira e começa a dar uma gargalhada sem fim? poizé, o fato e a memória dele, tipo, o sentimento de Freire lembrando são outras formas de escrever  também, como já ensina Amadou Hampate Ba. Ou basta ler Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus.

O Pretoguês é vernáculo afro-brasileiro, nosso jeito de falar o que queremos, escrevo o que eu quero, né Biko?! e como eu quero, como eu sou. Minha escrita além de dizer quem sou, como sou, o que penso, ela é por si só parte de mim, fruto do que sou, da realidade histórica, do contexto social, dos valores culturais, da descendência étnica-racial. Não precisamos nos integrar na sociedade: nós somos a sociedade. Sim, igualdade na diversidade. Além de toda a violência sofrida ainda querem que falamos, que empregue o verbo, à forma e semelhança do colonizador. Aff…

A galera indígena tem batida na mesma tecla, com seus sites bilingue, com a luta pelas línguas maternas. Recentemente li um texto da Soraya Misleh falando “O Brasil que a mídia oculta também é árabe”, brasileiramente árabe, né Natália?!.

Ser poliglota em saber que para nós aqui mandioca, é a mesma coisa que aipim ou macaxeira em outro lugar, embora macaxeira seja macaxeira e mandioca é outra coisa, como insistia em explicar para mim lá n norte… sim, eu sei, só a interativa na tradução regional… então manda aquela porção de macaxeira com carne seca então. Ou cacetim, pão francês e massa grossa são o mesmo tipo de pão… mas la, aqui e acolá.

Entender que quando falamos diáspora africana tem sentido diferente de  diáspora judaica. Entender o que o movimento negro quer dizer quando  fala Raça, Negro, Racismo… ou o cordel, rap, reggae, samba… os trocadilhos e diretas cantadas no sambada de coco, do jongo. Embora “E  não te ensino a minha malandragem / Nem tão pouco minha filosofia / Quem dá luz a cego é bengala branca em Santa Luzia” letra Que Bloco  É Esse, de Ilê Aiyê. O pretoguês nas letras de resistência e asè do afoxé de Alafin Oyó.

Buscar na diversidade a felicidade, a vida e não a morte. diversidade onde tudo é igual, não rola, já não cairemos mais nessa. Durante a primeira conferência livre de comunicação para cultura, lá em chão grande, pernambuco, insistimos na tese: “Regulamentação do artigo 221 da Constituição Federal com a aprovação de leis que garantam percentual de conteúdo regional e independente, observando a diversidade étnica, de gênero, religiosa para exibição nos canais de sinal aberto e por assinatura e nos mais diversos suportes e sua rigorosa fiscalização”, creio que isso tenha que valer para web também, mas não por lei, mas consciência.

Um livro bem bacana nesse sentido, é Falando Banto ou Novo Dicionário Banto do Brasil, Nei Lopes. Percebo que uma galera é desmotivada a escrever logo quando alguém diz que ela tem que escrever certo lá no blog, no wiki, no site. Certo pra quem?

O jeito da mestra, do mestre, d@ griot, falar, das voltas, cores e exemplos para explicar algo, diante da impaciência do racionalismo objetivo, do pragmatismo neoliberal… a uniformidade das coisas em negação ao diverso, dos tempos… do silêncio.

Não é o ódio contra tudo aquilo que é português, mas sim o enaltecimento e a defesa do que é latente: a apropriação do meios e a produção pelos condenados da Terra.

Texto de Banto PalmarinoExtraído do blog Trezentos
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(Salvador) - Como parte da programação alusiva ao Dia Nacional do Jornalista, que transcorre na quarta-feira, 7 de abril, a Agencia Afro-Latina Euro-Americana de Informação (ALAI), em conjunto com a Comissão dos Jornalistas pela Igualdade Racial vinculada ao Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Cojira-Ba) vai exibir filmes sobre a temática mídia e intolerância para a comunidade. O cine-fórum será realizado das 15hs às 17h, na Casa da Nigéria (rua Portas do Carmo, 26, largo do Pelourinho), seguido de debates com o jornalista Dalmo Oliveira, do movimento negro da Paraíba e o sociólogo Dudah Oliveira, realizador do filme É prá Pirá-já, vencedor do prêmio Luiz Orlando (melhor filme escolhido pelo júri popular) no Festival 5 Minutos 2009, promovido pela Secretaria da Cultura do Estado da Bahia.  

A atividade, aberta ao público, também faz parte da programação de comemoração  dos 10 anos da organização não governamental criada por jornalistas militantes e ativistas do movimento negro e outros movimentos sociais que fizeram frente contra o apartheid, pela anistia e direitos humanos. Entre os filmes que serão exibidos estão ainda Minha Cara, Bela Cara, Cara Preta de Mulher (documentário, 23 minutos) de Ana Gomes, ex-aluna do curso de audiovisual da Central Única de Favelas (Cufa, Rio de Janeiro), produzido  pela Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial vinculada ao Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro (Cojira-Rio); e filmes do Projeto audiovisual Cinemina, dirigido por Giselle Morais, Nina Silva, Janaina Oliveira e Neide Diniz e produzido pela ONG Estimativa, Rio de Janeiro. Maiores informações. 55 71 3241.3667.

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domingo, 21 de março de 2010

A Academia de Letras da Bahia realiza, de 23 a 25 de março das 14 as 19h,  pelo segundo ano consecutivo, o Curso Manuel Querino – Personalidades Negras, que tem como objetivo o estudo, a difusão, a rememoração da vida e obra de personalidades negras baianas e brasileiras que se destacaram nos mais diversos setores da atividade humana para manter viva essa memória e as suas obras. As personalidades em foco de homenagem póstuma são o professor Francisco da Conceição Menezes, o médico psiquiatra Dr. George Alakija, as sacerdotisas do candomblé Mãe Menininha do Gantois e Mãe Senhora, o escritor e bacharel em Direito especializado em temas afro-brasileiros.Edison Carneiro, o poeta Solano Trindade o dramaturgo e documentarista Nelson de Araújo.

De acordo com o coordenador executivo do curso, o professor de história Jaime Nascimento “muito mais do que uma simples homenagem, o curso pretende suscitar análises críticas a respeito do legado deixado por cada personalidade em seu contexto histórico”. Manuel Querino, intelectual baiano morto há 87 anos, foi um abolicionista atuante e levantou a voz contra ideias racistas disfarçadas de verdade científica que circulavam no meio intelectual à época. Na primeira ediçao do curso foram homenageados Cosme de Farias, Teodoro Sampaio, Jorge de Lima, Lima Barreto e Alberto Guerreiro Ramos. Para falar sobre o legado das personalidades estão convidados professores, escritores, jornalistas e estudiosos dessas persobalidades ligados a instituições diversas.

 O curso tem o apoio de  será ministrado no auditório da ALB e aberto ao público. As inscrições  podem ser feitas através de e-mail contato@academiadeletrasdabahia.org.br
  ou pelo telefax: (71) 3321-4308. O candidato deve fornecer nome, endereço, formação/profissão e contatos.


Links para essa matéria: http://www.agendacultural.ba.gov.br/2010/03/23/memoria-personalidades-negras-rememoradas-pela-academia-3/


PROGRAMAÇÃO

Curso Anual Manuel Querino – Personalidades Negras
Terça-feira dia 23 de março de 2010
AUDITÓRIO DA ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA

Dia 23 13h às 14h    
Credenciamento

14h    
Abertura:

Prof. Edivaldo M. Boaventura

Presidente da Academia de Letras da Bahia

Deputado Marcelo Nilo

Presidente da Assembléia Legislativa da Bahia

Prof. Penildon Silva Filho

Diretor Geral do Instituto Anísio Teixeira


Palestras:
Manuel Querino: Vida e Obra na luta contra o “Racismo Científico – Profa. Ms. Sabrina Gledhill (Pós-Afro CEAO-UFBA / IGHB)

Manuel Querino e as Artes na Bahia – Prof. Dr. Luiz Alberto Freire (UFBA)

16h10 Intervalo

16h30

Francisco Solano Trindade – Profa. Raquel Trindade 

Francisco da Conceição Menezes: o educador – Profa. Ms. Débora Kelman de Lima (Colégio da Bahia)

19:00
Debate e encerramento


Quarta-feira dia 24 de março de 2010
AUDITÓRIO DA ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA

14h00

Palestra: Antônio de Souza Benta: coronel negro da Chapada Diamantina – Prof. Ms. Jedean Gomes Leite (UNEB)

Palestra: Édison Carneiro e o samba na chave do Folclore – Profa. Ms. Alessandra Carvalho da Cruz (UCSAL)


16h10 Intervalo

16h30

 Palestra: George Alakija: ensaio para um perfil biográfico – Profa. Ms. Ana Alakija (ALAI)

Palestra: Artur Arézio da Fonseca: um nome para escrever em caixa alta – Prof. Dr. Luis Guilherme Pontes Tavares (FTC/ALBA)


19h
Debate e encerramento

Quinta-feira dia 25 de março de 2010
AUDITÓRIO DA ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA

14h00

Palestra: Mãe Senhora: filha de Oxum Miua – Prof. Luis Domingos de Souza (Restaurante Maria de São Pedro)

Palestra: Nelson de Araújo – Prof. Dr. Adailton Silva Santos (UNEB) 


16h10 Intervalo

16h30

Palestra: A Boa Morte de S. Gonçalo dos Campos - A família Cazumbá. – Prof. Dr. Sebastião Heber Vieira Costa (UNEB / IGHB)

Palestra: Mãe Menininha do Gantois – Prof Francisco Soares de Senna (UFBA/ALB)
19h
     
Debate e encerramento

Academia de Letras da Bahia - Avenida Joana Angélica, 198 Nazaré – Salvador – Bahia – Brasil CEP: 40050-000
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As audiências públicas no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os processos que questionam a constitucionalidade da política de cotas para negros nas universidades públicas – duas ações de inconstitucionalidade de dois programas de ação afirmativa, modalidade cota racial, sendo uma do Partido Democratas (DEM) questionando a Universidade de Brasília (UnB) e a outra de uma pessoa física, contra a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – provocaram a veiculação de um manifesto em defesa das políticas de ações afirmativas na página B3 do caderno "Dinheiro" do jornal Folha de S.Paulo em sua edição de 3/3/2010. A publicação nesta editoria assume um aspecto interessante: coloca visualmente a questão racial no espaço da economia, que nos traz notícias, comentários e análises sobre as políticas econômicas e negócios praticados no país e no mundo.

Vale destacar, a título de não nos tomarmos como inocentes, que há muito segmentos da sociedade civil, em especial o movimento negro, que estudam as desigualdades no Brasil sob a perspectiva de raça e classe que dialogam, mas têm as suas especificidades. Dito isto e como vivemos em uma sociedade dominada pela imagem, a veiculação do texto "Você é a favor de um Brasil mais justo?" na editoria de economia de um dos principais veículos de comunicação do País (com posição contrária à do texto pago publicado) alcançou os olhos de operadores do mercado financeiro e do direito, leitores preferenciais das editorias de economia.

Vícios de linguagem e manipulaçãoEste público está ligado 24 horas por dia em qualquer movimento que signifique a curto, médio e longo prazos mudanças no mundo dos negócios. Um exemplo flagrante desta preocupação é a notícia publicada no mesmo dia e caderno, em sua última página (B12), sob o título "Rumor sobre Slim movimenta ações do New York Times". A matéria fala a respeito do suposto (até aquela data) interesse do empresário mexicano Carlos Slim (controlador da Embratel aqui no Brasil, diga-se de passagem) em obter o controle do jornal nova-iorquino, onde ele já detém 7% das ações com direito a voto na empresa.

Nos dois últimos parágrafos, a matéria destaca os comentários de outro mega-empresário das comunicações, Rupert Murdoch (com negócios também no Brasil), que controla os concorrentes principais do NYT na cidade (The Wall Street Journal e o New York Post). Murdoch disse não acreditar na venda da empresa concorrente a algum estrangeiro e "menos ainda para um mexicano" (grifo nosso). Na linha seguinte, "o australiano (Murdoch) esclareceu que não se referia `racialmente´ e elogiou Slim".

Por que Rupert Murdoch fez questão de, imediatamente, fazer a retificação de sua primeira declaração? É porque ele sabe o que representa – lá fora – um mal-entendido como esse envolvendo um grande mercado como é o hispânico nos Estados Unidos e nos demais países latinos, onde ele tem negócios e sócios. Já pensou se boicotam os produtos que ele vende no México e nos EUA em resposta à ofensa que poderia ter sofrido o empresário mexicano Carlos Slim?

Apesar dos adversários do que se convencionou chamar de "politicamente correto", a atitude de Murdoch é exemplo da atenção dispensada por homens como ele a determinados vícios de linguagem que podem, se manipulados do ponto de vista econômico, causar prejuízos a grandes conglomerados empresariais. Este episódio, publicado no final de uma matéria sobre controle acionário, visualiza também a dimensão que parte da imprensa no exterior dá a determinados comentários e suas repercussões.

A campanha "Afirme-se"Daí por que a publicação (mesmo paga) do manifesto "Você é a favor de um Brasil mais justo?" nas páginas de economia do jornal Folha de S.Paulo insere visualmente a questão negra no Brasil na pauta de temas a serem tratados jornalisticamente também sob o ângulo da economia. A população negra (pretos + pardos, conforme o IBGE) não apenas foi determinante na construção do país na época do regime escravocrata. De 14 de maio de 1888 até a presente data, este mesmo grupo continua decisivo no processo de construção do Brasil, apesar de ser o que ainda menos usufrui deste crescimento econômico.

Exemplo prático disso está na mesma edição da Folha na manchete do caderno "Cotidiano" com retranca na página C-3. Refletindo a principal manchete do jornal em 03/03/2010, a reportagem sobre o balanço do Plano Nacional de Educação período 2001 a 2008 informa que, entre 1994 e 2008, a Desvinculação de Receitas da União (DRU) retirou R$ 10 bilhões por ano (cerca de R$ 140 bilhões no total) da receita vinculada à aplicação na educação. Este montante, que deveria ter sido aplicado na escola pública, deixou, portanto, de beneficiar a grande maioria de negros matriculados nas unidades da rede de ensino público mantidas pela sociedade brasileira. Quem vai repor este "caminhão de dinheiro" ou reparar o prejuízo causado a estes milhões de crianças, adolescentes, jovens e adultos alunos e alunas da escola pública? (Boa pergunta para quem quer ser presidente da República).

Nesta mesma página (C-3, "Cotidiano", FSP), no lado direito, uma pequena nota – coluna de 7,5 cm de altura – informa a respeito das três audiências públicas no STF que motivaram o manifesto "Você é a favor de um Brasil mais justo?", de responsabilidade da campanha "Afirme-se".

Algo que merece ser analisadoO concorrente direto da Folha, o jornal O Estado de S. Paulo, publicou no mesmo dia 3/03 próximo passado o manifesto "Você é a favor de um Brasil mais justo?" na página A15 de seu primeiro caderno, mais especificamente na parte reservada à editoria internacional que, neste dia, mais uma vez, destacou os acontecimentos sobre o terremoto no Chile em três das suas seis páginas.

O intertítulo da reportagem foi expresso por duas palavras, sendo uma delas "tragédia". Aqui cabem duas interpretações que visibilizam a desigualdade de forças dos atores sociais. Por um lado, é trágica a possibilidade de ser reconhecida a inconstitucionalidade da ação afirmativa pelo STF, o que promoveria um retrocesso na promoção de justiça social no Brasil. De outro, a escolha do local da publicação revela mais da posição do jornal do que "n" editoriais que veicule contra as cotas raciais nas universidades públicas.

Em geral, a posição do anúncio é estabelecida pela direção da redação com orientação do departamento de publicidade e marketing. Ou seja, o editor recebe a página já demarcada, principalmente quando os anúncios são de tamanho expressivo. Como a "ordem" da posição do anúncio "parece vinda de cima", fica claro que em seu "subconsciente bem consciente" o Estadão julgou ser este tema externo à sociedade brasileira.

Na página A10 da mesma edição de 3/03 do Estadão, foi publicada uma matéria no alto da página em seis colunas com o título "STF abre debate antes de julgar ação contra cotas", assinada por Mariângela Gallucci (Brasília) e Roldão Arruda (São Paulo). A matéria é iniciada com a tentativa frustrada do Partido Democratas (DEM) de pedir a revisão do critério de escolha das pessoas e entidades que participariam diretamente, por 15 minutos cada uma, da audiência pública no STF. O texto é encerrado com a informação de que a TV Câmara lançaria no dia três de março um documentário denominado (será por acaso?) Raça Humana, de Dulce Queiroz, retratando "as tensões causadas pelas cotas raciais na UnB" com depoimentos favoráveis e contrários às cotas instituídas por esta universidade pública.

Em termos de espaço de matéria jornalística propriamente dita, a edição do Estadão concedeu um destaque bem maior às três audiências públicas no STF do que a Folha em suas edições de 3/03 próximo passado. No entanto, a relevância da publicação do manifesto na editoria de economia da FSP é algo que merece ser detidamente analisado.
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Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial  manifesta publicamente seu repúdio à censura econômica imposta pelo jornal O Globo diante da solicitação de anúncio pago da campanha Afirme-se! Pela Manutenção no STF das Políticas de Ação Afirmativa. A campanha, iniciada e mantida pela sociedade civil, levantou fundos para publicizar seu mote e veiculou o anúncio em jornais de grande circulação como o Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo e A Tarde, no último dia 3 de março, além da divulgação em televisão, rádio e internet.

O custo total dos anúncios nos três jornais totalizou R$ 111.815,71. De início, a direção comercial do jornal O Globo encaminhou a coordenação da campanha um valor negociado para publicação do anúncio a um custo de R$ 54.163,20. No entanto, após ter conhecimento do conteúdo do anúncio de página inteira, inflacionou o valor para R$ 712.608,00, o que significou um reajuste em torno de 1.300% do valor inicial.

A explicação dada pela direção comercial do jornal O Globo ao coordenador da campanha, o jornalista Fernando Conceição, foi que o aumento era justificado porque o conteúdo é classificado como expressão de opinião, dessa forma, sendo conteúdo editorial e não publicitário.

O Globo é um jornal que possui 85 anos de história e ao tomar um posicionamento com viés censor como esse, de não veicular um manifesto civil em suas páginas usando para isso um valor superinflacionado para um anúncio,  vai contra os princípios do Estado Democrático de Direito e a liberdade de expressão. O tema do anúncio, assim como o da campanha, é de imensa importância para sociedade brasileira, além de ser um assunto da atual pauta política do país.
A Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial entende que qualquer manifesto, seja ele publicitário ou editorial, tem um conteúdo de opinião. Dessa forma, expressa veementemente seu apoio a campanha Afirme-se! E manifesta profunda decepção a postura adotada pelo jornal O Globo.


Afirmativamente,


Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial
Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial - AL, BA, DF, SP, PB e Rio
Núcleo de Jornalistas Afrodescendentes do Rio Grande do Sul
Federação Nacional dos Jornalistas
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Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou carvão.
Tenho que arder
Queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.

José Craveirinha (1922-2003-Moçambique)
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O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) é uma espécie de líder parlamentar da oposição às cotas para estimular a entrada de negros nas universidades públicas. O principal argumento contra essa iniciativa contesta sua legalidade, e o caso está no Supremo Tribunal Federal, onde realizaram-se audiências públicas destinadas a enriquecer o debate.

Na quarta-feira o senador Demóstenes foi ao STF, argumentou contra as cotas e disse o seguinte: "[Fala-se que] as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. Gilberto Freyre, que hoje é renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual". O senador precisa definir o que vem a ser "forma muito mais consensual" numa relação sexual entre um homem e uma mulher que, pela lei, podia ser açoitada, vendida e até mesmo separada dos filhos.

Gilberto Freyre escreveu o seguinte:
"Não há escravidão sem depravação sexual. É da essência mesma do regime".
"O que a negra da senzala fez foi facilitar a depravação com a sua docilidade de escrava: abrindo as pernas ao primeiro desejo do sinhô-moço. Desejo, não: ordem."

"Não eram as negras que iam esfregar-se pelas pernas dos adolescentes louros: estes é que no sul dos Estados Unidos, como nos engenhos de cana do Brasil, os filhos dos senhores, criavam-se desde pequenos para garanhões. (...) Imagine-se um país com os meninos armados de faca de ponta! Pois foi assim o Brasil do tempo da escravidão."
Demóstenes Torres disse mais: "Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram. (...) Até o princípio do século 20, o escravo era o principal item de exportação da economia africana".

Nós, quem, cara-pálida? Ao longo de três séculos, algo entre 9 milhões e 12 milhões de africanos foram tirados de suas terras e trazidos para a América. O tráfico negreiro foi um empreendimento das metrópoles europeias e de suas colônias americanas. Se a instituição fosse africana, os filhos brasileiros dos escravos seriam trabalhadores livres.

No início do século 20 os escravos não eram o principal "item de exportação da economia africana". Àquela altura o tráfico tornara-se economicamente irrelevante. Ademais, não existia "economia africana", pois o continente fora partilhado pelas potências europeias. Demóstenes Torres estudou história com o professor de contabilidade de seu ex-correligionário José Roberto Arruda. O senador exibiu um pedaço do nível intelectual mobilizado no combate às cotas.

Texto de Élio Gaspari
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A direção da Folha de S.Paulo, simplesmente, autorizou a um elemento estranho à redação (mas não aos diretores), o sociólogo Demétrio Magnoli, a chamar de “delinquentes” dois repórteres do jornal, autores de matéria sobre a singular visão do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) da miscigenação racial no Brasil. Vocês, não sei, mas eu nunca vi isso na minha vida, nesses 24 anos de profissão. Nunca. Por tabela, também o colunista Elio Gaspari, que desceu a lenha no malfadado discurso racista de Demóstenes Torres, acabou no balaio da delinquencia jornalística montado por Magnoli.
Das duas uma: ou a Folha dá direito de resposta aos repórteres insultados (Laura Capiglione e Lucas Ferraz), como, imagino, deve prever o seu completíssimo manual de redação, ou encerra as atividades. Isso porque Magnoli, embora frequente os saraus do Instituto Milleniun, não entende absolutamente nada de jornalismo e confundiu reportagem com opinião. A matéria de Laura e Lucas nada tem de ideológica, nem muito menos é resultado de “jornalismo engajado” (contra o DEM, na Folha??). A impressão que se tem é que houve falha nos filtros internos da redação e deixaram passar, por descuido ou negligência, uma matéria cujas conseqüências aí estão: o senador Torres, sujeito oculto da farsa do grampo montada em consórcio entre a Veja e o STF, virou, também, o símbolo de um revisionismo histórico grotesco, no qual se estabelece como consensual o estupro de mulheres negras nas senzalas da Colônia e do Império do Brasil.

A reação interna à repercussão de uma matéria elaborada por dois repórteres da sucursal de Brasília, terceirizada por Demétrio Magnoli, é emblemática (e covarde), mas não diz respeito somente à Folha de S.Paulo. O artigo “Jornalismo delinquente”, publicado na edição de hoje (9 de março de 2010), na página de opinião do jornal, nada tem a ver com políticas de pluralidade de opiniões, mas com intimidação pura e simples voltada para o enquadramento de repórteres e editores, e não só da Folha, para os tempos de guerra que se aproximam. A recusa de Aécio Neves em ser vice de José Serra deverá jogar o DEM, outra vez, no vácuo dos tucanos, a reviver a dobradinha iniciada entre Fernando Henrique Cardoso e o PFL, de triste lembrança. O imenso mal estar causado pela fala de Demóstenes Torres na tribuna do Senado Federal, resultado do trabalho rotineiro de dois repórteres, acabou interpretado como inaceitável fogo amigo. Capaz, inclusive, agora, de a dupla de jornalistas correr perigo de empregabilidade, para usar um termo caro à equipe econômica tucana dos tempos de FHC.
Demétrio Magnoli, impunemente, chama a reportagem da Folha de S.Paulo de “panfleto disfarçado de reportagem”, afirmação que jamais faria, e muito menos a publicaria, sem autorização da direção do jornal, precedida de uma avaliação editorial e política bastante criteriosa. O fato de se ter permitido a Magnoli, um dos arautos da tese conceitualmente criminosa de que não há racismo no Brasil, insultar dois repórteres e o principal colunista da Folha, em espaço próprio dentro de uma edição do jornal, deixa a todos – jornalistas e leitores – perplexos com os rumos finais da velha mídia e de seu inexorável suicídio editorial em nome de uma vingança ideológica, ora baseada em doutrina, ora em puro estado de ódio racial e de classe.

Texto publicado no blog Brasília Eu Vi, do jornalista Leandro Fortes
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As sessões dos dias 3, 4 e 5 de março da audiência pública sobre cotas raciais no sistema educacional, promovida pelo Supremo Tribunal Federal em Brasília-DF para subsidiar os ministros da corte de justiça para o julgamento do mérito da ação, transcorreram em clima de tranqüilidade. Várias entidades negras e outras da sociedade civil fizeram vigília in loco e em vários Estados, para acompanhar os pronunciamentos.

Os pronunciamentos na audiência pública foram feitos por juristas, parlamentares, defensores, acusadores e representantes das partes envolvidas e da sociedade civil - negros e brancos - especialistas na questão e representantes de diversos segmento sociais. O ministro da Promoção da Igualdade Racial, Edson Santos, “preto”, apresentou dados que revelam a desvantagem de negros em relação a brancos. O índice de analfabetismo de jovens de 15 anos, por exemplo, é 2,2% maior entre pretos e pardos. Além disso, os negros representam 73% dos 10% mais pobres no país, e apenas 15% dos 10% mais ricos. "Isso demonstra a necessidade de uma intervenção do Estado, que não deve se manter distante e neutro diante do quadro de desigualdade do país", defendeu o ministro.

O Brasil é o maior país em concentração de população afro-descendente e dentre os mais de 190 milhões de habitantes, em torno de 49,5% são recenseados como “pretos e pardos”. Numa projeção demográfica dos órgãos oficiais de estatística, o novo censo pode anunciar, em breve, a população negra como maioria no país. A estatística se reverte sempre em desvantagem para os afro-descendentes em quase todos os setores da sociedade, com os negros figurando como maioria nas estatísticas de morte por violência e marginalidade e quase ausentes em postos de comandos de responsabilidade.

O senador Demóstenes Torres, “branco”, do DEM – partido político que entrou na justiça com a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) contra o sistema de cotas, apelou para a co-responsabilidade dos negros no sistema escravista vigente no Brasil durante quatro séculos. Ele alegou que os países da África subsaariana forneceram “escravos” para o mundo antigo, islâmico, Europa e para a América. Ele disse também que a abolição da escravatura em 1888 concedeu a cidadania a todos os libertados. O senador ainda trouxe o exemplo da miscigenação no Brasil para defender a tese da democracia racial e que teria se dado de forma consensual e não “pelo estupro” como “fala-se”.  O DEM constitui uma das maiores agremiações políticas no país, herdeiro de antigas forças políticas oligárquicas que comandaram o Brasil por mais 30 anos foi acusado em diversas falas na audiência de nunca ter feito recorte racial em suas ações partidárias e negros em seus quadros de comando. 
O antropólogo Kabengele Munanga, “preto”, professor da Universidade de São Paulo (USP), citou o exemplo dele próprio “como uma voz que veio da África, mas que está no Brasil há 35 anos”. Ele foi o primeiro negro a ingressar e a concluir um doutorado em antropologia social no Centro de Estudos Africanos da USP e o único negro professor desde a fundação daquele departamento, sem vislumbrar a possibilidade de um segundo professor negro naquele departamento após a sua em breve aposentadoria. Ele qualificou de quadro gritante a ausência e ou raridade de negros com alta qualificação nos quadros das universidades e em cargos de alta responsabilidade em outros setores da vida nacional, quando comparado com outros países que conviveram com práticas racistas, como os Estados Unidos e África do Sul, “este último, às vésperas da extinção do apartheid, tinha mais negros com diploma do que o Brasil de hoje”.
O ministro do STF Joaquim Barbosa, único “preto” da corte, enfatizou a importância "da inserção consequente de minorais no sistema educativo do país. Outros depoimentos de negros e brancos defenderam que ao contrario de países que buscaram soluções para superação do racismo através de conflitos sangrentos, no Brasil os negros estão buscando o caminho da igualdade civil de forma ordeira e democrática.
A audiência foi presidida pelo supremo ministro Gilmar Mendes, “branco” e terá como desdobramento a elaboração de parecer a ser feito pelo ministro Ricardo Lewandowski, “branco” que poderá submeter a matéria a um plebiscito nacional, trazido em algumas falas e diante da correlação de forças demonstrada no tribunal. 

Texto: Ana Alakija

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sábado, 6 de março de 2010


Acompanhe no canal do Supremo Tribunal Federal (STF) no YouTube a audiência pública organizada pela Corte para debater a constitucionalidade do sistema de cotas raciais para ingresso em universidades públicas.

Os vídeos disponíveis mostram todo o debate do primeiro e segundo dia do evento (4 e 5 de março) e as discussões realizadas na manhã do último dia da audiência, na sexta-feira, 5 de março. Os vídeos das discussões realizadas na tarde do dia 5 de março serão disponibilizados no canal na próxima segunda-feira, 8.

A audiência pública foi convocada pelo ministro Ricardo Lewandowski, relator de duas ações em curso no Supremo contra essa política de ação afirmativa. Uma ação é a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 186), de autoria do Democratas (DEM). A outra é um Recurso Extraordinário (RE 597285) apresentado por um estudante que se sentiu prejudicado pelo sistema de cotas adotado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Ao todo, 43 pessoas participaram do evento, entre pesquisadores, parlamentares, representantes do governo de movimentos sociais. Representantes de universidades federais tiveram a oportunidade de relatar as experiências com a aplicação das cotas nas instituições.

Os vídeos da audiência pública disponibilizados no YouTube estão divididos em três listas de reprodução: cotas raciais 1, relativa ao primeiro dia; e cotas raciais 2, relativa ao segundo dia, e cotas raciais 3, relativa ao terceiro dia.

RR/EH

Fonte: STF
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O pesquisador João Feres, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), elencou três motivos para a aplicação de políticas de ação afirmativa: reparação, justiça social e/ou diversidade. Ele foi um dos palestrantes na audiência pública realizada pelo Supremo Tribunal Federal.

De acordo com ele, a reparação é a ideia de corrigir a injustiça da escravidão cometida no passado histórico beneficiando os descendentes dos negros. Já a justiça social é decorrente da ideia de que é preciso tratar com diferença os grupos para tornar suas relações mais justas (discriminação positiva). Isso é feito por meio de políticas de ação afirmativa, como é a da reserva de cotas em universidades, por exemplo.

Feres repudiou a ideia de que a ação afirmativa viola a igualdade concedida por lei. “Quase todas as políticas do Estado de bem-estar social operam da mesma forma: distribuem recursos públicos que pertencem igualmente a todos de maneira desigual para promover o bem geral, o interesse comum e o interesse nacional”, afirmou. Para ele, não há como declarar a inconstitucionalidade dessas ações sob o risco de se ter de declarar também a inconstitucionalidade de programas sociais como os concedidos pelo BNDES ou pelo o bolsa-família, por exemplo.

Na opinião do pesquisador, é importante que as políticas de ação afirmativa incluam pretos e pardos, que são uma parte significativa da população cujo nível socioeconômico é inferior ao dos brancos.
Ao falar sobre diversidade, ele negou que ações afirmativas já em vigor há mais seis anos no Brasil tenham incitado conflitos raciais. “Nada indica que o simples fato de alguém optar pela cota no ato da inscrição do vestibular vá redefinir sua identidade racial para o resto da vida”, colocou.

João Feres é mestre em Filosofia Política pela UNICAMP e mestre e doutor em ciência política pela City University of New York (CUNY).
MG/LF

Fonte: STF
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A Pré-conferência Setorial de Cultura Afro-brasileira terminou no dia 25 de fevereiro, em Brasília, com a definição das cinco propostas estratégicas do segmento para a II Conferência Nacional de Cultura (II CNC).


As estratégias foram elaboradas após os debates dos cinco eixos temáticos - produção simbólica e diversidade da cultura afro-brasileira; cultura, cidade e cidadania afro-brasileira; cultura afro-brasileira e economia criativa; e gestão e institucionalidade da cultura afro-brasileira -, os mesmos que serão debatidos na conferência nacional.


Os participantes também elegeram os dez delegados e dez suplentes que representarão o setor no encontro nacional, e elaboraram a lista tríplice para integrar o Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC) no biênio 2010-2011.


Durante dois dias, delegados, convidados e observadores discutiram o espaço da cultura negra dentro da sociedade brasileira e racismo institucional, apropriação de conhecimento, intolerância e muitos outros temas ligados à condição do negro no Brasil.

Confira a lista de delegados e suplentes.
Confira as propostas.
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Comparações entre as imprensas produzidas por negros no Brasil e nos Estados Unidos, bem como as suas relações com os movimentos sociais negros nos dois países, tendo como destaque os programas de ações afirmativas. Este é um dos temas a serem abordados no ciclo de palestras e lançamento do livro “Movimento Negro: escritos sobre os sentidos, democracia e justiça social”, organizado pelos professores Amauri Mendes Pereira e Joselina da Silva.

Em destaque, a relevância para a chamada “imprensa negra fluminense” do jornal SINBA que circulou em fins dos anos setenta durante a ditadura civil-militar.  Segundo lembrou o jornalista e pesquisador Togo Yoruba, os militantes do movimento negro manifestaram- se nesta época lançando algumas publicações, entre as quais o SINBA, o Jornegro em São Paulo e a revista Tição em Porto Alegre, que teve entre os seus fundadores o jornalista Jorge Freitas integrante da direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ).

Conforme nos recorda o jornalista José Reinaldo Marques, “nos anos oitenta surgiram publicações como a revista paulista “Ébano”, ( NR: que teve na sucursal fluminense a participação do jornalista Miro Nunes, membro da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-SJPMRJ) ) e o jornal carioca “Maioria Falante”, que circulou entre 1987 e 1996 e fundado também por Togo Yoruba.  Em 1991, foi lançada no Rio a revista Nós, we around the world e, cinco anos depois, em São Paulo, a revista Raça Brasil, que completa 14 anos de em circulação”.

As palestras e o lançamento do livro “Movimento Negro: escritos sobre os sentidos, democracia e justiça social”  aconteceram no Centro Cultural Municipal Oduvaldo Viana Filho, na Praia do Flamengo 158  (esquina com rua Dois de Dezembro e próximo ao Largo do Machado), Flamengo, Rio de Janeiro, no dia, 2 de março, às 19h.

Texto: Sandra Martins 
Fonte: www.jornalistas. org.br
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 “Quilombo Vivo” é o mais novo projeto do Centro Universitário de Cultura e Arte de Campina Grande (Cuca-CG), que tem como proposta utilizar a produção cinematográfica para promover uma interação entre as comunidades Quilombolas e os Pontos de Cultura que trabalham com audiovisual na Paraíba. A atividade já tem parceria confirmada com a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), através do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e dos Povos Indígenas (Neab-í) com o Ministério da Cultura.
Além de promover capacitação, o projeto aprovado no edital Tuxáua do Ministério da Cultura, doará um kit de registro audiovisual para as comunidades quilombolas, contendo uma filmadora e uma máquina fotográfica digital. O projeto está em fase de pré-produção e tem previsão de começar ainda no primeiro semestre. 
Segundo o professor de História da UEPB e coordenador do Neab-í, José Benjamim, o Núcleo foi procurado pelo Cuca a fim de fornecer uma melhor orientação sobre as comunidades a serem visitadas. 
Serão beneficiadas pelo Quilombo Vivo as comunidades de Caiana dos Crioulos, Caiana dos Mares e o Quilombo de Talhado, todas localizadas no estado paraibano. O projeto será dividido em duas fases. Na primeira, será feita a distribuição dos kits de registro audiovisual. Já na segunda fase, acontecerão cursos de técnicas de filmagens, de fotografia e de manuseio dos equipamentos audiovisuais.
Da mesma maneira que ocorreu na última semana, quando o Cuca e alunos da UEPB promoveram uma oficina de Técnicas de Entrevistas e Filmagens no bairro do Pedregal (Campina Grande) - com o propósito de contribuir para que os moradores contassem sua história, por eles mesmos - o principal mérito do Quilombo Vivo é permitir que essas comunidades possam preservar sua memória e identidade, além de manter viva a cultura que produzem.
Da Assessoria de Imprensa da UEPB
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domingo, 21 de fevereiro de 2010

O Supremo Tribunal Federal (STF) promove, nos dias 3, 4 e 5 de março de 2010, audiência pública para discutir as políticas de ação afirmativa para reserva de vagas no ensino superior. A programação pode ser conferida no site do STF.

O relator dessa matéria no STF é o ministro Ricardo Lewandowski, responsável pela Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 186 e pelo (RE) Recurso Extraordinário 597285, que questionam a constitucionalidade da reserva de vagas nas universidades públicas, a partir de critérios raciais. O ministro Lewandowski decidiu convocar a audiência porque considera importante do ponto de vista jurídico, “uma vez que a interpretação a ser firmada por esta Corte poderá autorizar, ou não, o uso de critérios raciais nos programas de admissão das universidades brasileiras”.

Por isso, antes de levar os processos ao plenário para submeter seu voto ao colegiado, o relator decidiu ouvir o depoimento de pessoas com experiência e autoridade em matéria de políticas de ação afirmativa no ensino superior.

De acordo com o cronograma, 38 especialistas vão se dividir nos três dias para defenderem seus pontos de vista sobre o tema. Nos dias 3 e 4 de março, a audiência ocorre das 8h30 às 12h e, no dia 5, a programação será durante todo o dia. Entre os inscritos, estão representantes de associações, fundações, movimentos e entidades. A lista completa dos participantes também está no link audiências públicas no site do STF.

Por causa do grande número de inscritos, foi necessário adotar um critério de seleção que permitisse a participação dos diversos segmentos da sociedade e a mais ampla variação de abordagens sobre a temática das políticas de ação afirmativa de acesso ao ensino superior.

Cada participante terá 15 minutos para a sua intervenção. A audiência pública será transmitida, ao vivo, pela TV Justiça e pela Rádio Justiça, e para outras emissoras que manifestarem o interesse na transmissão.


(Texto: Josué Franco Lopes - Coordenador de Comunicação - Abraço Nacional )
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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Por Daniel Campos*

Em 2003, a juíza Luislinda Dias Valois dos Santos proferiu a primeira sentença brasileira baseada na Lei do Racismo.

Deu ganho de causa a uma negra acusada de ter roubado um frango e dois sabonetes da principal rede de supermercados da Bahia. 

Declarada a sentença, Luislinda foi ameaçada de morte. Mas isso não era novidade na vida da primeira juíza negra do Brasil. 

Negra, mulher, divorciada, nordestina e de origem pobre, ela costuma dizer que se for morta seu assassino será o racismo.

Tinha nove anos quando um professor lhe disse que seu lugar era na cozinha de uma branca. 

Ao ser aprovada no concurso público para procuradora, uma Bahia comandada por coronéis brancos mandou-a para Curitiba. 

Para regressar, passou no concurso da Justiça Estadual da Bahia e foi exilada em uma comarca sem luz, telefone e água encanada. De pronto, foi avisada de que, mais dia menos dia, seria morta. 

Fez um curso de justiça célere na Austrália e, ao aplicar esse processo por aqui, quiseram saber o que ela ganhava julgando com rapidez. 

Advogados já pediram cancelamento de audiência ao saber que a juíza não era branca. Muitos ainda se perguntam o que aquela mulher de rastafári vermelho faz sentada na cadeira do juiz. 

Certo dia entrou em um banco e foi chamada e tratada como bandida pelos seguranças. Depois de alguns sustos, passou a ter cuidado com a água que bebe e com o percurso que faz diariamente. 

Foram muitas as intimidações para que ela renunciasse à magistratura. 

Como não conseguiram matá-la fisicamente, fecharam-lhe todas as portas do Judiciário. Sem se intimidar, passou a fazer audiências na periferia, nos alagados, nos quilombos. 

De barco, ônibus ou a pé, a juíza tentou levar justiça à população mais carente. 

Porém, foi duramente censurada. Até mesmo do premiado projeto Balcões de Cidadania, do qual foi idealizadora e coordenadora, foi afastada. 

Mesmo ganhando diversos prêmios e homenagens, Luislinda é tida, dentro do meio, como uma juíza menor. 

Ela tem certeza de que muito do problema do preconceito está dentro do Judiciário, ainda branco e machista. 

No Brasil, pouco mais de 1% dos juízes se declaram negros e a maioria, principalmente nas instâncias superiores, é do sexo masculino. 

Aos 67 anos, a filha de Iansã tem todos os requisitos necessários para se tornar desembargadora. 

Só que Luislinda não precisa jogar búzios, ler cartas ou freqüentar o terreiro de mãe Bebé para saber que ninguém a quer como desembargadora. Como juíza, já incomoda muita gente. 

* Daniel Campos é poeta, escritor, jornalista, pós-graduado em Comunicação Criativa pela ABJL e autor do portal de literatura e poesia www.danielcampos.biz (extraído do site do IRDEB)
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 Por Jocélio Teles dos Santos*
  
Na madrugada do dia 10 de fevereiro um dos canais de televisão pagos projetou o filme O Homem Errado de Alfred Hitchcok (1956). Trata-se de um músico de uma casa noturna (interpretado por Henry Fonda),  religioso, casado, de vida pacata e que é confundido, acusado e preso pela polícia americana por um crime que não cometeu. Ao ver o filme eu me perguntei: e se o personagem fosse de cor na sociedade americana de antanho ou na atual sociedade brasileira? Qual seria o roteiro e o desfecho? A resposta veio em menos de vinte e quatro horas
Provocado pela mídia me desloquei com um amigo para o show de Beyoncé no Parque de Exposições em Salvador. Havíamos comprado ingressos para a pista Vip no intuito de uma visão ideal do show da mega estrela. E esta área estava restrita a quem pagasse R$370,00 por cabeça. Enquanto assistíamos ao show de Ivete Sangalo deparei-me com um fato que exemplifica o racismo institucional.

Uma guarnição da Polícia Militar abruptamente abordou o meu amigo, circundando-o e já levando-o de modo truculento, sem nada perguntar, segurando-o pelo braço por trás, pela camisa, na costumeira fila, dita indiana, da corporação do Estado. Ao me aproximar para saber o que estava acontecendo, os soldados me afastaram e não tive outra alternativa que acompanhá-los no meio da fileira, mesmo falando que estávamos juntos e procurando saber do que se tratava. A resposta do corpo policial traduziu força e ameaça, mesmo que implícita, sem nenhum texto, a não ser o gestual, demonstrando que não há verbo capaz de estabelecer um possível diálogo entre sujeitos que detém e os que devem ser alijados de alguma relação com quem personifica o poder.

O meu amigo estupefato não reagiu. Foi levado para um canto da pista VIP, próximo aos holofotes e humilhado pela revista policial, como se estivesse cometido um delito. Sendo obrigado a mostrar a carteira de identidade, teve que dizer onde residia e, por fim, após a crueldade de todo o rito da PM, ouviu a seguinte frase do responsável pela guarnição: “houve um roubo aqui na área VIP e soube que a pessoa era do seu estilo”. Qual estilo, cara pálida? Respondo: o da cor/raça. Meu amigo é negro retinto.

A área VIP era formada majoritariamente por indivíduos de classe média e branca. Se comparada com a área de pista mais barata – preços no valor de 80,00 e R$160,00 – ali havia uma proteção policial considerável, mesmo sendo uma área cara, reservada e sem grande fluxo de pessoas. Durante o evento havia sempre duas guarnições. A lógica da distribuição policial em espaços de eventos elitizados parece obedecer a critérios. Quais? Procuremos os sentidos implícitos, já manifestos a distribuição desigual da PM na capital soteropolitana.

Diante desse fato de racismo explícito, o que dizer dos olhares das pessoas diante de tal brutalidade? Mesmo que elas estivessem freneticamente dançando ao som de Sangalo, não houve reações, o que demonstra a subjetividade e a introjeção do racismo na sociedade brasileira. Ao ver um negro sendo levando por policiais, mesmo ele estando na área VIP, algo que indica um diferencial em termos de classe, um sentimento de proteção emana das cabeças ali situadas. A naturalização do racismo – uma pessoa negra sempre é suspeita – associa-se aos que imaginam estarem sempre protegidos pela corporação militar.

Exemplos como esse abundam no país. O diferencial é que foi na ala VIP de um show. Lembro-me que no debate sobre as cotas raciais nas universidades os que eram contrários insistiam em dizer que no Brasil é difícil definir quem é negro. A resposta dos ativistas atualizou-se na área VIP para ver Beyoncé: “pergunte a polícia e ela saberá”.

* Departamento de Antropologia e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos da Universidade Federal da Bahia. (extraído do site do IRDEB)
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Em sintonia com o espírito democrático vivenciado em nosso tempo, o Supremo Tribunal Federal convocou audiências públicas para ouvir a sociedade e, desta forma, subsidiar o julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº186/09, de autoria do Partido Democratas, contra a política de cotas raciais para o ingresso nos cursos de graduação da Universidade de Brasília (UnB). Não estarão em jogo apenas as vagas para estudantes negros na UnB, mas todas as ações afirmativas colocadas em prática no Brasil. Pautada nesta compreensão, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial - em perfeito acordo com suas atribuições - estimula a mobilização dos gestores públicos destas políticas nos estados e municípios em torno das audiências. Lamentavelmente, o avanço destas  políticas e a forma equilibrada como o Supremo conduz a discussão vem causando incômodo e despertando reações virulentas dos setores mais conservadores. Um exemplo foi a publicação na última quinta-feira (18), nos jornais O Estado de São Paulo e O Globo, de artigo no qual o STF é comparado a um circo, além de sugerir que o movimento negro estaria organizando um cerco ao Tribunal com o objetivo de constranger seus magistrados. O que é uma inverdade. Os militantes da causa antirracista sempre apostaram no ambiente democrático para o avanço de suas reivindicações. O respeito ao Supremo é tamanho, que jamais ocorreria compará-lo a um picadeiro ou tentar, de forma desqualificada, pressionar o voto de seus ministros.

Edson Santos
Ministro-chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
Coordenação de Comunicação Social
Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
Presidência da República
Esplanada dos Ministérios, Bloco A, 9º andar - 70.054-906 - Brasília (DF)
Telefone: (61) 3411-3659 / 4977

(Imagem: livro “Cotas raciais – Por que sim?”, de Cristina Lopes. Em: http://www.neilopes.blogger.com.br)
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sábado, 13 de fevereiro de 2010

Os blocos de matriz africana do Carnaval de Salvador tiveram um importante registro de suas ações lançado na última quarta-feira (9), trata-se do Catálogo Carnaval Ouro Negro, uma publicação que reúne informações como histórico, ações sociais e curiosidades de 128 entidades carnavalescas, entre blocos dos gêneros afoxé, afro, índio, samba, percussão e reggae. A publicação bilíngüe (português e inglês) e ilustrada foi lançada durante o Carnaval 2009 e reeditada neste ano, com o objetivo de dar visibilidade aos blocos atraindo novos foliões e patrocinadores. A distribuição é realizada antes e depois do Carnaval em agências de viagens, hotéis, jornais e revistas especializadas, entre outros públicos, do Brasil e do exterior.

Clique aqui para fazer o download do Catálogo Carnaval Ouro Negro (pdf)

Saiba mais sobre o programa.
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domingo, 7 de fevereiro de 2010

Do portão, já é possível perceber que esta não é uma chácara como as da vizinhança. Pequenas casas de alvenaria estão espalhadas pelo terreno, em torno de um grande barracão. Sobre ele, uma bandeira branca celebra a paz. As centenas de árvores são decoradas com tiras de pano que envolvem o tronco, representando uma reverência à natureza. Ao fundo, escuta-se o som da água que corre a partir de um córrego ou de uma nascente — símbolo da vida para os visitantes do local. Estamos em uma casa de Candomblé, ambiente desconhecido pela maioria dos brasilienses. Para preservar e divulgar a cultura e as religiões de matrizes africanas, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) vai lançar este mês o livro Inventário dos terreiros do Distrito Federal e Entorno. A publicação conta a história e revela segredos dos principais locais de culto da capital federal.

A publicação será distribuída gratuitamente em bibliotecas, órgãos públicos e também entre pesquisadores e interessados pelo universo do Candomblé e da Umbanda. Durante a pesquisa, as equipes do Iphan identificaram e catalogaram 26 terreiros em várias cidades do Distrito Federal e do Entorno. Pelas suas características, as casas de culto costumam ficar em locais mais afastados e de difícil acesso, como chácaras de áreas rurais. Todas realizam, com frequência, festas públicas, além de prestarem serviço de aconselhamento espiritual particular.

É o caso do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá - Ilê Oxum, comandado por Railda Rocha Pitta, 72 anos — conhecida por todos como Mãe Railda. Construído em um amplo terreno em Valparaíso, a 45 quilômetros do centro de Brasília, a casa é uma das mais tradicionais da região e recebe até deputados e ministros de Estado. Fundado em 1972, o terreiro começou com a doação do lote por um amigo pessoal de Mãe Railda. Ao longo das últimas quatro décadas, ela consolidou a estrutura que hoje consiste em um grande barracão e nas casas dos orixás espalhadas pelo lote.

Reconhecimento
Mãe Railda conta que decidiu abrir o terreiro em Brasília por orientação de Mãe Menininha do Gantois — que foi uma das mais famosas representantes brasileiras do Candomblé. “Ela abriu o jogo de búzios para mim e disse que eu havia sido escolhida por Xangô. Mãe Menininha me garantiu que eu teria um terreiro grande em Brasília para cuidar do povo”, relembra Railda. De tão reconhecida, ela é frequentemente chamada para representar o Candomblé em cerimônias oficiais. Nas paredes da casa, há fotos da mãe de santo com o presidente Lula e com ministros e ex-ministros como Celso Amorim e Gilberto Gil. Também estão pendurados o diploma de cidadã honorária e o de integrante do Clube dos Pioneiros do Distrito Federal.

Uma forma de lutar contra o preconceito
O superintendente do Iphan no DF, Alfredo Gastal, conta que a preocupação do instituto com a preservação dos terreiros tradicionais começou há 25 anos, com o tombamento de uma das casas mais antigas de Salvador, a Casa Branca. “Nós, brasileiros, tivemos influência europeia, asiática, mas a cultura negra permeou absolutamente todos os aspectos das nossas vidas. Não podemos ignorar a importância dessa contribuição”, destaca Gastal.

Ele acredita que a divulgação do inventário dos terreiros do Distrito Federal vai ajudar a reduzir o preconceito da sociedade em torno das religiões de matriz africana. “O estudo é uma forma de esclarecer quem nós somos. Não podemos aceitar no Brasil nenhum tipo de preconceito religioso, cultural ou racial. Somos feitos de uma mescla de gente de uma riqueza fantástica”, finaliza o superintendente do Iphan.

Um dos exemplos desse preconceito citado por Gastal foi a destruição das imagens dos orixás da Prainha, no Setor de Clubes Sul. De autoria do artista plástico Tatti Moreno, as obras de arte que simbolizavam os orixás foram queimadas e decapitadas, provavelmente por questões religiosas. As esculturas foram recuperadas e recolocadas no fim do ano passado. Hoje, a movimentação na área é monitorada por câmeras de segurança.

O trabalho do Iphan em Brasília e no Entorno começou em 2008 e foi fruto de uma parceria entre as superintendências do órgão no Distrito Federal e em Goiás. A primeira etapa consistiu no levantamento preliminar dos terreiros em atividade. A medida atendeu a uma demanda dos próprios adeptos, ansiosos pelo reconhecimento e valorização do patrimônio cultural vinculado às religiões afro-brasileiras.

Para Roberval Marinho, praticante do Candomblé e pesquisador reconhecido da área, a preservação da memória do Candomblé e da Umbanda é importante para lutar contra o preconceito. “Muita coisa da cultura e da religião já se perdeu. Esse estudo do Iphan é de grande importância para lutar contra esses ataques religiosos contra os cultos de origem africana”, explica Roberval, conhecido como Babalaô Roberval de Ogum.

Outro terreiro incluído no livro do Iphan é o Axé Bara Leji, ou Centro Espírita do Pai Tito. Criado em 1973 em Taguatinga, e depois transferido para uma chácara em Santo Antônio do Descoberto, o centro é hoje comandado por Fernando César Trindade de Aguiar, o Pai Fernando de Oxoguian. Além dos trabalhos culturais e religiosos, o terreiro tem uma forte atuação social na comunidade — uma característica comum a várias casas de culto. “Fazemos esses projetos sociais com recursos próprios. O Candomblé é um culto a tradições e culturas milenares. Nossa religião tem uma tradição cultural e social muito grande”, destaca Pai Fernando.


"Nós, brasileiros, tivemos influência europeia, asiática, mas a cultura negra permeou absolutamente todos os aspectos das nossas vidas. Não podemos ignorar a importância dessa contribuição"
Alfredo Gastal,superintendente do Iphan no DF
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